terça-feira, 12 de agosto de 2008

A Festa da Democracia

"As leis podem ser injustas e inadequadas, mas devem ser obedecidas
enquanto não poderem ser revogadas ou modificadas." Ágide Meneguette


A Justiça Eleitoral normatizou a eleição, praticamente impedindo a vibração da festa da Democracia. Lei de primeiro mundo para um Brasil ainda de terceiro mundo. É a "lei do não pode".Quase transforma a campanha num velório, burocratizando e proibindo. Fica claro que o mentor das resoluções jamais frequentou um comitê eleitoral. Imaginou, parece, um escritório administrativo, onde prevalece a calma e a razão, assistido por notáveis recursos humanos. Não é assim. Nos noventa dias de campanha, se muito, não há tempo, nem gente pronta para isso. O projeto para um dia de campanha às vezes tem que ser modificado mais de uma vez durante o transcorrer do próprio dia, tamanho é o dinamismo. O comitê eleitoral, diferentemente do escritório, exala a improvisação e a paixão. As tantas e exigentes resoluções criaram a apelidada "eleição do celular e do suplente". O celular para gravar ou fotografar o ato irregular e um suplente ávido para assumir um lugar que não conseguiu ser titular. Daí a apelação.
O idealizador das resoluções pareceu olhar a história do Brasil e achar que está se repetindo a entrega de nossas riquezas pelos índios a troco de espelhinhos e miçangas. Julga o eleitor brasileiro como detentor de voto facilmente "comprável". Não é assim, entretanto. O que "compra" o brasileiro são os programas assistencialistas do governo,mas muito mais a concessão de empregos públicos e ofícios bem remunerados, qual novas capitanias hereditárias que não são concedidas à galera. O povão só é "comprado" por discurso sedutor. Mais, afirmam os sociólogos, o povo mais simples vota a favor do candidato do governo se considera que sua vida melhorou. Vota contra, se a vida não está boa.
Na verdade, embora respirando e tendo coração, na campanha eleitoral o candidato é transformado num produto que precisa ser "vendido". É aí que o bicho pega. Como vendê-lo, diante de tantas dificuldades impostas? Para bem decidir, o eleitor tem que ter informações sobre a vida do candidato e sua capacidade administrativa. Carlos Ayres Brito, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, recomenda: "Votar com todo entusiasmo, toda alegria, toda liberdade, toda atenção, dando um chega pra lá nos compradores de votos e buscando o máximo de informação quanto ao candidato mais democrático. Mais democrático e de vida moralmente mais limpa, além de comprovadamente capaz de conduzir os destinos de seu município, isso porque o futuro de seu município, eleitor, será o seu próprio futuro."
É o tal do passado limpo que se tem que pesquisar. É isso mesmo, político não tem estrela na testa, mas tem história de vida. É essa história que indica como ele será se for eleito governante. Pena que a Justiça Eleitoral não se aventurou a publicar o nome de candidatos com "ficha suja". A campanha eleitoral é o vestibular da administração, daí ser preciso que durante ela surjam todos os atos e fatos abonadores e desabonadores das candidaturas, para que eleitor possa decidir bem informado.
Há de se concordar, porém, que não se pode transformar a festa em farra da democracia. Panfletagem poluidora, som de rua irritante, "comilanças e bebelanças" por qualquer motivo ( tem candidato que já leva no porta-malas do carro um isopor cheio de carne e transforma qualquer bar em comitê eleitoral). Aí é o excesso, a farra, que deve ser proibido. Mas um singelo pão com carne moída, uma bem comportada "linguiçada" ou rodada de pizza ao palito, após uma reunião, já faz parte do folclore da eleição brasileira. É nesse ambiente que o "produto" candidato é melhor "vendido" aos eleitores, falando de sua vida e de sua obra. Falando, principalmente, porque quer ser vereador ou prefeito de sua cidade.

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