A professora, Maria de Lourdes Brunieri Silva, uma vez por semana tem uma missão diferente das que realizava normalmente. Ela sai de casa e ao invés de seguir para a escola, tem um outro destino, a casa da dona Maria das Dores de Campos, que mora no Jardim Panorama.
A ação é resultado da união do projeto Alfa, desenvolvido pela secretaria da Educação e Cultura de Ubiratã, com o Paraná Alfabetizado, criado pelo governo estadual. Com a parceria ficou para trás o tempo em que os alunos da cidade tinham aulas personalizadas somente em escolas particulares e um novo cenário começa a ser desenhado na história da educação municipal.
Dona Maria, é aposentada, tem 81 anos e mora com dois filhos numa casa humilde, assim como toda a família. A filha de 45 anos teve paralisia, conseqüência disso depende da mãe para tudo. Já o filho, Manuel Aparecido dos Santos, 58, é o famoso “pau para toda obra”. “O que aparece de trabalho a gente faz”, diz cheio de disposição.
Quando criança, por causa do trabalho, Maria das Dores deixou de lado a escola. Freqüentou somente o primeiro ano, depois aprendeu o que pôde e conseguiu em casa mesmo. As dificuldades enfrentadas para cuidar da filha foi o principal fator que a impedia de voltar aos bancos escolares. “Ela não come, não anda, não toma banho sozinha. Tenho que fazer tudo para ela”, conta.
Diante da impossibilidade apresentada, a professora Maria de Lourdes se dispôs a dar aulas na casa da xará. Desde então, começou o processo de alfabetização de Maria das Dores. A professora comenta que a aluna é aplicada e esperta. “Apesar de todo o tempo sem aulas, ela se mostra muito atenta”, destaca.
Nas paredes da sala da casa estão coladas as vogais, alfabeto, palavras, pequenas frases e também números. O material serve de apoio para as aulas e também para facilitar a fixação do que a professora ensina nos encontros semanais. Quando vai falar das aulas, dona Maria é enfática: “Adoro! É muito bom. A professora tem paciência e ensina bem”. Ela acrescenta ainda que estudando “a idéia fica mais fresca”.
Inspiração – Manuel, nunca foi para a escola. Motivo? O mesmo que a mãe enfrentou antes, trabalho! Como dizem que os filhos são os espelhos de seus pais em junho chegou a vez de Manuel começar a ser alfabetizado, desde então também é atendido em casa.
As aulas da dona Maria das Dores acontecem sempre nas quintas-feiras, quando o filho não está trabalhando a aula é para os dois, se não a professora atende em dias diferentes.
Aos poucos ele vai se adaptando à novidade, uma vez que nunca freqüentou uma escola. Mesmo sendo algo novo tem mostrado interesse como ele próprio comenta: “devagarzinho a gente vai aprendendo. Sobrou uma folguinha a noite eu vou estudar mais”, declara orgulhoso.
Segundo sua mãe, “a maior alegria era ter meus filhos estudados”, emociona-se. Como não conseguiu, considera estar realizada acompanhando o filho estudando ao seu lado.
Amizade – Maria de Lourdes está nos projetos pela terceira vez e diz que o contato semanal aqueceu a relação professor e aluno. Agora, se consideram mais amigos do que mero mestre e educandos. A professora argumenta que o aprendizado é mútuo. “Eu ajudo na alfabetização, mas o aprendizado de vida que tenho com eles é muito maior. Eles têm uma história de vida de muito esforço e isso emociona, faz com que a gente valorize mais as coisas simples”, confessa.
Entre as observações ressalta que dona Maria das Dores está sempre feliz, apesar de tudo o que passa. “Eu a considero uma pessoa abençoada”, afirma.
Aulas – Além de atender mãe e filho em casa, Maria de Lourdes, tem uma turma dos programas funcionando na Associação dos Deficientes Físicos de Ubiratã (Adefiu). São 14 alunos que têm a oportunidade de serem alfabetizadas, conhecerem novas pessoas e ocuparem o tempo vago.
Os programas trabalham com temas geradores. Ou seja, o mesmo assunto é tratado em todas as turmas que existem na cidade no mesmo período. A professora explica então que o início das aulas é mais para que todos se conheçam e é levantada a história de cada um, depois representada através de desenhos. “Isso tem como objetivo fazer com que fiquemos mais próximos”, fala.
Conforme destaca, ela e os alunos são eternos cúmplices. “Quando não posso dar a aula no dia combinado fico preocupada porque tenho que repor, mas sempre trabalhamos com companheirismo. Isso facilita o trabalho”, completa.
A coordenadora municipal dos programas, Sueli Antonelli, conta que outras quatro professoras realizam um trabalho parecido. “Oferecer esse atendimento na casa, ter essa aproximação com o aluno e observar os resultados é tão gratificante”, avalia.
Programas – Em Ubiratã estão funcionando 19 turmas com aproximadamente 250 alunos no total. São turmas em escolas, associações, igrejas, entre outros.Para participar dos programas é necessário ter no mínimo 15 anos, não ter escolaridade ou ser analfabeto funcional e apresentar a carteira de identidade. A duração do programa é de oito meses, com possibilidade de continuar conforme novas turmas são abertas. Mais de 500 alunos já se formaram em Ubiratã através dos programas. (FOTO: CÁSSIO CENIZ)
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
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