segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

DE VOLTA AO HABITAT

Gosto de ver na TV Vale aquelas reportagens produzidas pela Emater, onde são destacadas ações que levam famílias rurais a conseguirem maior geração de renda na diversificação da produção em suas terras e como conseqüência conquistam melhor padrão de vida. Enche-nos os olhos (não de inveja, mas de prazer) o êxito alcançado por tais famílias e a vida modesta que reluz muito mais alegria que o luxo exorbitante de certos ambientes urbanos. Quem se criou na roça, não esquece suas raízes.
Fico a pensar que também em Ubiratã precisaríamos encontrar formas de fixar o homem do campo em seu ambiente de trabalho, evitando torna-lo um dependente de empregos na cidade. Com conhecimento de causa posso afirmar que a tecnologia da agricultura mecanizada dos tempos modernos em praticamente nada garante a fixação do homem no campo, se este possuir pouca terra ou for um pequeno arrendatário. Lavouras que não empregam a mão-de-obra braçal disponível em tais famílias não dão camisas aos pequenos produtores, justo porque o seu lucro é a máquina quem vai comer. Tratores e colheitadeiras, pulverizadores, produtos agro-químicos e os caminhões do frete consumirão aquela parcela do retorno na safra, que seria exatamente o lucro do trabalhador.
Em nossa região estamos vivendo a euforia da implantação da avicultura de corte, um grande passo para a industrialização e geração de novas oportunidades. Mas, agricultor de berço e muitos anos de trabalho como fui, sinto-me cético quanto ao resultado deste programa para aqueles homens e mulheres que quanto eu, possui lá uma pequena área de apenas uns minguados alqueires paulistas. Não que eu esteja me posicionando contrário a este projeto; muito pelo contrário: há vários anos tenho acompanhado as discussões sobre o assunto e vejo que é um meio de redenção econômica tanto para o município de Ubiratã quanto para os da circunvizinhança. Mas não novidade a ninguém que quem tem pouca terra fica fora do programa.
Quem se aventurar a comprometer o valor total de sua área no financiamento de um aviário poderá colher os resultados promissores desta opção, com certeza, mas tanto quanto eu, certamente muitos não terão coragem de fazer isto. Mesmo porque nem entregando toda a terra, o valor seria suficiente para pagar um aviário. E daí, que opção vai nos restar?
A agricultura de subsistência já não está sendo o suficiente para que uma família sobreviva dignamente encima de pouca terra. As opções modernas são caras demais. Tais famílias então estão fadadas ao sumiço de suas atividades agrícolas e incharão as filas que vão bater às portas de empresas e prefeituras, à caça de um emprego que renda salário fixo. Ou ao menos um trabalho temporário. E não basta ter qualificação, pois o mercado de trabalho está lotado de diplomados, muitos dos quais nem tão preparados quanto diz o diploma e que têm emprego garantido, enquanto outros verdadeiramente mais competentes são relegados à margem do mercado de trabalho por lhe faltar padrinhos.
Para muitos trabalhadores da roça o que falta é oportunidade para implantar uma nova atividade em suas terras. Iguais àquelas que vemos em muitas reportagens produzidas pela equipe da Emater e mostradas periodicamente na TV Vale. Não é necessário dar o peixe nem a vara, mas apenas ajudar a desbravar o caminho onde chegar ao rio que tenha peixes: o resto a gente faz. Quando muito, um financiamentozinho pra ajudar a facilitar as coisas. Não é necessário dar terra, casa e comida de graça: aqueles que esperam isto, em grande parte não querem é trabalhar. Não há necessidade de criar nenhum novo movimento de classe à base de invasões arbitrárias e criminosas tanto quanto as que já se registraram por este Brasil a fora. Basta! Este povo não é agricultor, mas agitadores e usurpadores dos direitos legitimamente adquiridos. Muito mais do que dividir a terra em reforma agrária, é necessário fixar no campo aqueles que de lá já são.
Neste assunto o município de Ubiratã está precisando se recompor. É hora dos poderes constituídos e as agremiações de caráter se unirem em torno de um projeto que permita às famílias viverem com dignidade encima mesmo de pouca terra. Serão mais empregos na cidade e maior giro na economia. Com certeza já existem propostas em prática, produzindo efeitos positivos. Mas, se olharmos para a Ubiratã do futuro que queremos ter, precisamos fazer mais. Muitos mais. E urgentemente. Nem é preciso esperar das hostes de Brasília ou Curitiba. Idéias geniais podem surgir aqui mesmo, quem sabe através dos muitos estudantes de nossa cidade. Que eles ponham a cabeça pra funcionar, em busca de um projeto inovador, barato e eficaz, para a fixação do homem do campo em seu habitat.Anseio pelo dia em que a Emater local possa encabeçar alguma iniciativa em que o produto principal seja: apontar um caminho para transformar a vida do homem e da mulher que residem no campo e lá querem permanecer, mesmo dispondo de apenas um hectare, dois hectares ou três, um alqueire e meio ou dois... Certamente serei um dos primeiros a abraçar esta causa e assim abrir mais uma vaga de emprego aqui na cidade, principalmente se esta vaga for ocupada por alguém que por forças das circunstâncias não dispõe da regalia de possuir um pequeno pedaço de chão para encima dele trabalhar, viver e em paz esperar o momento de morrer. (Artigo de Odair Roberto)

Nenhum comentário: