segunda-feira, 9 de junho de 2008

LOUCURA COMO ESPORTE

Senti-me profundamente revoltado ao ver aquela reportagem. Noite de domingo, primeiro de junho. A reportagem mostrava pais que permitem a seus filhos praticar e lutar o boxe. O que me assustou foi a idade com que tais filhos vão para as aulas e disputas: dez anos ou menos. Alguns pais até forçam seus filhos a tal prática, com a boa intenção de transformá-los em campeões. E isto não necessariamente lá fora, entre as loucuras que tomam conta da mentalidade de pessoas dos tais países desenvolvidos. Mas cá, no nosso país.
Doeu-me o coração ver uma garotinha a chorar, antes de entrar na luta: tinha coisa de cinco anos de idade. Um verdadeiro crime, sem dúvida. Mas que com certeza não chocará o mundo, porque isto foi lá na Europa.
O triste é saber que este modismo insano está sendo adotado também por pais brasileiros em considerável escala. A revolta mexeu comigo e com alegria vi que alguns profissionais, especialistas em certos assuntos, desaprovaram tal atitude. Não tenho a menor dúvida que se a matéria fosse sobre pais ensinando seus filhos a serem profissionais e trabalhadores honrados, a reação seria imediata.
Fico a pensar: a que sorte chegamos!!! Criança de apenas três anos sendo preparada pelo próprio pai para o boxe... Aprendendo a conviver e praticar com a violência de um esporte que até para adultos chega a ser condenável. Pais que querem a todo custo transformar seus inocentes rebentos em fábrica de aplausos. Lembro de um trágico acidente acontecido anos antes, quando um pai tentava quase desesperadamente que sua filha ainda criança entrasse para a história como a pessoa mais jovem a realizar a pilotagem de avião em determinada circunstância.
A que ponto chegamos!!! E me pergunto: como os poderes devidamente constituídos reagirão a esta barbaridade? Na simples condição de pai fiquei profundamente intrigado. Absurdos de toda sorte proliferam como status e esporte. Há, inclusive aqui em nossa cidade, pequenas motocicletas destinadas exatamente para crianças. Ironicamente quando o Código de Trânsito Brasileiro reconhece como piloto apenas quem tem a Carteira Nacional de Habilitação e esta só pode ser conquistada com a idade mínima de 18 anos. Então para que a indústria constrói? E o que dizer das pressões e desgastes sofridos por adolescentes nos diferentes esportes, na busca doentia por glória, fama e poder???
De certa forma acho horríveis certos comportamentos, quando o status e a glória são buscados doentiamente. Como se a glória terrena fosse o tudo. Dedicar esforço em busca de um ideal sadio e produtivo para si e para outros é dever de todos nós. E como pais, devemos orientar nossos filhos desde a mais tenra idade, para que quando quisermos fazer já não seja tarde demais. Vagabundos começam a ser “fabricados” nos vem três das mães, com a morbidez dos pais. Bons profissionais, artistas e atletas começam também a ser “fabricados” nos mesmos moldes.
Mas a sensatez deve estar presente, para que nossos filhos não sejam expostos ao perigo por causa de nossas ambições. Se o trabalho infantil é combatido como caso de polícia, também deve se tornar caso de polícia a utilização de crianças e adolescentes em esportes que as expõem ao perigo. A menos que queiramos ser hipócritas.

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