terça-feira, 28 de abril de 2009

Comes e Bebes Político

Comer e beber na companhia de amigos, há muitos séculos, é uma das boas coisas da vida.

Jesus, sabendo que chegara a sua hora, proporcionou a seus apóstolos a ceia de despedida. Foi nela que pediu, na consagração do pão, como seu Corpo, e do vinho, como seu Sangue, para ser lembrado para sempre. "Fazei isso em memória de mim.", disse. Eu não tenho dúvida ser esse o inesquecível banquete da humanidade. Teve comida, bebida e mensagem. Agora, no mundo da ficção, a mais famosa ceia foi descrita por Platão, no famoso livro "O Banquete", em que Apolodoro narra a festa em que o jovem poeta Agatão ofereceu a amigos, entre os quais Sócrates, em comemoração ao prêmio que recebeu. Após comer e beber, cada um dos convivas fez um discurso, como era a praxe. O tema escolhido celebração e louvor a Eros, o Amor. Deixe-me fechar essa reflexão inicial dizendo: se o amor nos garante a perpetuação da espécie, a comida e a bebida a complementam, garantindo a manutenção da vida.
Puxa vida! Não era minha vontade estar lhe incomodando com essa filosofia de botequim. Eu só queria dizer que num banquete convidamos uns aos outros não para comer e beber, mas para comer e beber juntos, o que é muito diferente. Daí porque o anfitrião dificilmente convida sentar à mesa, para a refeição em comum, pessoas que não têm o pensamento afinado com os demais participantes. O banquete é sinal de identidade de um grupo de companheiros. Vale lembrar que companheiro é palavra derivada do radical latino "cum panis", ou seja, aquele com quem dividimos o pão. É, pois, mais do que um amigo, um verdadeiro irmão. Por isso a festa sempre tem como propósito uma celebração, no mínimo uma confraternização entre pessoas que se gostam.
Antes de continuar, vamos repetir que um banquete exige muita comida, muita bebida, muitos talheres, muitos pratos, muitas garrafas, muitos copos. É a fartura complementada por excelente atendimento e Ilustrada por boa música (baixa, para que as pessoas possam conversar). A falta disso tudo, o "bucho vazio" e o "bico seco", não deve acontecer, mas pode ser desculpada e entendida por aqueles que sabem que o motivo da reunião é mais importante do que o comer e beber.
O banquete, ou no popular, "comes e bebes", era muito utilizado pelos políticos para proximidade com eleitores e fortalecimento da base de apoio. Também para estabelecer alianças. Assim acontecia em Ubiratã, na fazenda próxima à pedreira, também na ilha do Carajá ou no Sítio Indez. Infelizmente, severa lei proibiu a prática da "comilança e bebelança eleitoral". Até mesmo foram vetados o singelo rodízio de pizza, a linguiçada e o pão com carne moída, mesmo a carne assada em improvisada churrasqueira na porta do bar, regados à tubaína. Vetou-se também a possibilidade de qualquer show no ato político. Cortou-se a comida, a bebida e a música. E aí, como fazer para reunir gente para a transmissão da mensagem, ou, mesmo, para a organização da campanha? Parece-me que a Justiça Eleitoral brasileira elaborou lei de primeiro mundo para país de terceiro mundo.
Os brasileiros não somos acostumados a reunião que não termine com mãos e bocas ocupadas. É justamente nesse momento, com os comentários e trocas de ideias, que se dá o melhor aproveitamento do tema apresentado. Tornou-se difícil. Ainda que na antiga Grécia era frequente o "apò spyrìdos", banquete em que os convidados deviam levar uma cesta (spyrìdos) de vime contendo alimentos. Uma espécie de piquenique. Pela lei eleitoral brasileira cada participante do banquete tem que pagar o sua parte. Aí, só quem tem companheiros, que são também "campanheiros" firmes e leais, consegue organizar festa para realimentá-los com informação e formação a respeito do propósito que os fazem estarem juntos e conquistar mais adeptos.
Até parece que os lesgisladores não conhecem o Brasil e os brasileiros, vivendo e legislando para outro país. Ou, pior, não sabem que, melhor que comer e beber, é comer e beber juntos... falando de política. Aí é a celebração da vida... e da eleição passada, presente ou futura.
* valdir d'alécio

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