segunda-feira, 20 de abril de 2009

SÓ FALTA OPORTUNIDADE


Não me apraz girar em torno do próprio umbigo em questões sobre as quais neste espaço procuro dissertar. Mas tem hora que é preciso fazer, para que certos assuntos não caiam no esquecimento de alguns. Como já não mexia neste assunto há um bom tempo, volto àquele modesto grupo que nasceu a partir de uma sugestão da minha pessoa e em um dia da mentira se tornou realidade: a Cuíca.
Três anos já se passaram desde a criação desta Companhia Ubiratanense Independente de Cinema Amador, que ainda não tem nem sede própria, nem CNPJ. Não tem um prego sequer que seja realmente de propriedade sua. Mas ganhou respeito entre pessoas de outras localidades. Santo de casa não faz milagre. E este dito popular tem sido levado à risca, pois a equipe, embora sendo genuinamente ubiratanense, continua sendo tratada com completo desinteresse por muitas pessoas que lideram no cotidiano da nossa cidade.
O desânimo às vezes bate, qual a loucura para quem está em longo período de estresse no trabalho. A falta de reconhecimento e valorização enfraquece as energias levantadas para a execução dos projetos. As perspectivas se tornam minguadas feito um esqueleto ressequido. Ninguém está a pedir tapete vermelho nas ruas e ambientes freqüentados pelos integrantes da equipe, mas uma pitada de incentivo moral e financeiro faz bem. No entanto, em vez disto, vem a indiferença. Em recente data, por exemplo, um grupo de formandos de um colégio estadual da nossa cidade ignorou a sugestão de mostrar um filme da Cuíca para mostrar um filme estrangeiro. Não dá nem pra comentar esse boicote.
Tenho comigo que um ideal deve ser levado às últimas conseqüências, desde que não venha em prejuízo de ninguém. É o que estamos tentando fazer na Cuíca. Entendemos que em nada prejudicamos a quem quer que seja. Bem pelo contrário: tentamos ajudar no enriquecimento da cultura do nosso município. Trabalhamos para a ampliação do acervo de cultura da nossa gente, ainda que para tanto não ganhamos sequer um sanduíche... E louvamos o apoio moral que muitas pessoas simples dedicam aos trabalhos que já conseguimos realizar. Com certeza outros trabalhos virão e consolidarão nossas intenções de crescimento, apesar dos espinheiros de inveja e indiferentismo entre os quais estamos a crescer magricelamente.
Acreditamos em Ubiratã e no potencial de sua gente; acreditamos também no parco potencial dos integrantes da nossa equipe. E queremos transformar isto em arte e cultura. É assim que estão a caminho pelo menos dois novos trabalhos. Se não são dignos de um “Oscar” ou um prêmio em festivais como Cannes, Berlim ou Gramado, são produções nossas, sem dinheiro nem interferência externa. Com certeza ampliaremos a aceitação em locais fora dos limites do nosso município.
Um trabalho é o filme de ficção, intitulado “Menino de Rua”, cuja edição está nos arremates finais. Não foi possível lança-lo na data que já estava reservada, mas com certeza não demora este precioso momento. E o outro trabalho também está no mesmo pé. É um documentário sobre a conhecida Folia de Reis da comunidade Curva da Onça. Um trabalho que está sendo aguardado por pessoas de diversas cidades da região e até de outros estados, cultivadores desta devoção.
Sei que às vezes sou meio azedo quando comento sobre alguns assuntos, mas qual pessoa não ficaria zangada ao ver uma iniciativa sua ser tratada com indiferença, quando propõe um trabalho digno? Quem achar que estou a exagerar, que considere o entusiasmo agora vivido por alguns adolescentes de nossa cidade, só porque decidi produzir um roteiro novo para ser por eles interpretado em um trabalho futuro. Se o tempo não nos for ingrato como o foram outras circunstâncias, em breve esses adolescentes mostrarão que o que falta não é o dinheiro: é a oportunidade.
(Odair Roberto)

Nenhum comentário: